quinta-feira, 29 de setembro de 2011

CORRUPÇÃO PASSIVA


Muito tem se falado, pelo menos nesses últimos cem anos, através da imprensa, sobre a corrupção política no Brasil. Alguns até insistem em dizer que todos os problemas, de todas as sortes, que acometem o nosso país, são ocasionados por conta de termos um dos países mais corruptos do mundo. Alguns ainda tentam justificar essa vergonhosa situação como um fato histórico e cultural, haja vista que Pero Vaz de Caminha, já em sua carta de descobrimento, instaurava o nepotismo.
Sendo comodismo, histórico, cultural ou não, o fato é que esse assunto tem sido pauta de todos os jornais há anos e muita pouca coisa tem-se feito no sentido de combater essas práticas. Com isso, boa parta parte da população não tem tido o interesse necessário para acompanhar as discussões de forma mais aprofundada oferecidas pela nossa democracia conquistada à custa de muitas vidas.
Os jovens são os principais reflexos desse desencanto. Não se vê mais envolvimento dos nossos estudantes como houve em tempos atrás em causa nobres como o direito à liberdade de expressão, envolvimento nos movimentos sociais populares ou não, ou a luta pela Direta Já e pela democracia. A principal luta hoje do movimento estudantil é a venda das “carteirinhas” que garantem a meia entrada em qualquer atividade cultural. E disso eu falo com propriedade já que fiz parte intensamente desse movimento quando do período de estudante universitário.
Mais recentemente alguns jovens tentaram, repito, tentaram promover uma Marcha pela Corrupção em todo o Brasil. Aqui em Campo Grande o vexame foi maior ainda. Conforme matéria veiculada pela imprensa local, apenas doze heróis estiveram no pátio da prefeitura empunhado faixas pela moralização na política, mesmo com uma mobilização forte e a confirmação de mais de mil pessoas pelas redes sociais.
O que eu quero dizer é que a corrupção não acontece somente no meio político como muitos pesam. A corrupção está em todos os lugares, sejam estes públicos ou privados. Lembram da Lei de Gerson? No caso aqui o Gerson é aquele jogador de futebol, campeão do mundo na Copa de 70, que em propaganda de cigarro dizia que só pensava em levar vantagem em tudo. Pois é, boa parte da população, principalmente em época de eleição procura aplicar a Lei de Gerson. Isso é fato! Até algumas pessoas esclarecidas buscam algum tipo de benefício nessas épocas justificando que o candidato está oferecendo e ele está precisando, então por que não aceitar o “agrado”. Isso também não seria corrupção por parte de quem aceita? Por acaso esse dinheiro, combustível ou qualquer tipo de doação recebida está na prestação de contas de quem a doou? De onde veio esse dinheiro gasto com essa “doação”? Qual a intenção do candidato que gasta bem mais do que aquilo que ele vai receber em salário se eleito for?
Sempre digo que nenhum político apontado como corrupto pela imprensa ou pela população caiu do céu direto para o parlamento ou no poder executivo. Os cupinchas pode até ser que tenham caído do céu, mas os eleitos não. Então, quem os colocaram lá senão a própria população?
Por fim, creio que a função principal da imprensa seria o de ter um papel educativo sobre a corrupção. A corrupção não só no meio político mais na vida pessoal de cada pessoa. Sei que a prática da honestidade e a opção pela ética e pelo que é moral vem de berço, mas pode-se adquirir ou longo da vida através da reflexão e pela influência do meio em que vivemos. Como nossas vidas são “pautadas” pelo que a imprensa nos projeta, penso que seria mais útil se ela elaborasse projetos que divulgasse uma programação que tratasse de um envolvimento com aquilo que é ético para as próprias pessoas. Não há como acreditar de só fazendo o papel de denunciante a imprensa já estaria cumprindo seu papel social para moralizar e sociedade.
Mas até esse tema da ética interferir na própria imprensa já seria tema para, quem sabe, um outro artigo.

ORGANIZAR PARA SE GARANTIR

Com a sedentarização no período da história conhecido como Neolítico ou Idade da Pedra Polida, os seres humanos desenvolveram uma forma de organização que facilitava o acesso às coisas que supriam suas necessidades, como: lavoura, criação de animais e já algumas obras, tudo visando atender a coletividade. Desde então a humanidade sempre buscou uma forma de organização que garantisse o mínimo de direito, tranqüilidade e segurança. Com tudo isso, foi surgindo as primeiras cidades que na Grécia antiga denominava-se pólis. Daí vem a expressão político, ou seja, o membro da polis.
Já em 384 a.C. ainda na Grécia, Aristóteles dizia que o ser humano em sua própria natureza seria incapaz de sobreviver isolado dos outros, o que gera a necessidade  de constituir associações e o próprio Estado comum a todos.  Aristóteles  em seu estudo sobre a política humana, além de observar as cidades-estados gregas, buscou elaborar um estudo sobre uma ordem natural organizacional do homem. Nesse estudo ele sentenciou que o ser humano é um animal político por natureza.
Portanto, diante do mundo moderno onde o que impera são as relações individualistas e de ações solitárias e não solidárias, é que se faz necessário um momento de reflexão sobre a importância de voltamos a ter como objetivo a organização das pessoas em grupos que articulam um ideal de defesa de seus princípios. Mesmo que às vezes esses princípios não correspondem com a vontade do conjunto da sociedade, eles são legítimos, pois correspondem aos anseios de um grupo de indivíduos que tem a direito de constitucional de se organizar.
Nesse sentido é necessário que as pessoas tenham a consciência de que se organizando elas poderão se fortalecer para manter ou conquistar seus direitos. Tenho ajudado algumas comunidades de moradores a se organizar para lutar pelos bem estar. Além dos benefícios que temos que fazer valer, é necessário que a população passe por momentos de formação sobre cidadania, na expectativa de que tenha uma maior autonomia e independência diante do clientelismo que alguns políticos insistem em manter. Agremiações, associações, partidos políticos, APM’s (Associações de Pais e Mestres), sindicatos, ferederações ou qualquer tipo de organização que tenha por objetivo a formação da cidadania de forma autônoma da pessoa humana sempre será fundamental para a manutenção da própria democracia. Por isso, deve ser sempre valorizada e incentivada a criação e a participação dos seus membros.

Silas Fauzi: Professor e militante de movimentos sociais

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

QUAL A ESPERANÇA QUE TE MOTIVA?


Estive participando, no final desta semana, dia 27 de agosto, da abertura do Encontro Regional (MS) da Pastoral da Juventude, a famosa PJ. Apesar de já ter passado há algum tempo da idade de militar nessa pastoral, estive lá como convidado para compor a mesa de abertura e falar um pouco sobre a minha experiência no período de militância, nos início dos anos noventa.
Olhando para os jovens de hoje, pude perceber que estamos vivendo um novo momento para a reorganização dos movimentos que sempre se articularam em torno de um objetivo concreto, embora, às vezes utópico, mas não deixava de ser alcançável. A frase do profeta Raul Seixas, “sonho que se sonha junto é realidade”, nos imbuia de que nossos sonhos eram possíveis.
Durante a mística de abertura do encontro, os jovens eram levados a refletir sobre qual a esperança que os motiva? Essa deve ser a pergunta a ser feita a todos os jovens nos dias de hoje! Creio que será muito difícil encontrar um jovem que dê a resposta. Se encontrarmos, a resposta será sempre no campo pessoal e específico, como: passar no Enem, passar num concurso público, ter um carro ou qualquer coisa desse tipo. Talvez, encontraremos uma resposta no campo coletivo e social, tipo: lutar por um mundo melhor, onde não haja ganância, onde as pessoas se respeitem, onde prevaleça a solidariedade, etc.
É bem verdade que os tempo de militância são outros. Tudo muda. O mundo muda. Já dizia o filósofo grego Heráclito que a água que passa debaixo da ponte nunca é a mesma. A militância e mobilização se fazem hoje pelas redes sociais. Não há aquela motivação de ir para as ruas, levantar bandeiras, pichar muros com palavras de ordem. Hoje a revolta acontece no mundo virtual a partir das quatro paredes do nosso quarto, de onde podemos dizer o que pensamos e para quem quisermos e, o que é melhor, sem ter que se expor.
Dos jovens que lutavam contra a ditadura militar nos anos sessenta, que aderiam as lutas dos movimentos sindicais nos anos setenta, que aderiam os movimentos sociais nos anos oitenta e que pintavam a cara nos anos noventa, só nos sobrou aqueles que hoje vão à rua lutar pela legalização da maconha. Longe de mim querer ser moralista, mas qual é a esperança que nos motiva mesmo?