Nessa semana comemoramos ao dia da Consciência Negra em nosso país. Essa
data é comemorada desde 1978 e faz menção à luta das pessoas negras, sobretudo
pela igualdade de direitos, pela história de resistência e pela plena liberdade
diante de uma sociedade que foi forjada à custa do escravismo. Zumbi, morto em
20 de novembro de 1695, é a grande referência de resistência e luta pela
liberdade e autonomia do seu povo na região de Palmares, no estado de Alagoas e
a história do Brasil é toda ela marcada pela constante luta dessa parte
significativa da população do nosso país. Mas a história de luta não se resume
somente ao estudo dos acontecimentos: ela se faz no nosso dia-a-dia.
Em pleno século 21, após décadas de “libertação” dos negros da condição
de escravos das fazendas cafeeiras, ainda temos casos alarmantes de
discriminação racial em várias esferas da nossa sociedade. Quando se fala em
discriminação racial, não existe idade. Crianças, jovens, adultos e idosos
sofrem constantes atos de racismo velados que vão desde uma piadinha, que num
primeiro momento parece ser inocente, até atos de racismo declarados, como o da
professora da disciplina de Religião Afro, da Universidade do Estado do Pará (UEPA),
que desferiu palavras depreciativas à condição humana ao segurança da
instituição que estava cumprindo seu papel de trabalhador responsável com a
suas obrigações.
Não precisamos ir muito longe para verificar a relação que algumas
pessoas estabelecem com as outras por conta da sua cor. No dia 23 de abril de
2011, tivemos um caso lamentável ocorrido no interior das Lojas Americanas,
onde um trabalhador foi atravessar de uma rua à outra por dentro do
estabelecimento com um ovo de páscoa, quando foi abordado por seguranças
acusando-o de ter subtraído o produto da loja sem efetuar o pagamento. Não
contente com a abordagem, os seguranças da loja o espancaram a ponto de deixar,
além de uma fratura no nariz, vários hematomas pelo corpo e a retina deslocada.
Até hoje esse trabalhador tenta levar uma vida normal com todas as dificuldades
que o trauma lhe trouxe para sua vida e de sua família.
Em relação à comparação dos números frios entre negros e brancos, vemos
uma realidade que os meios de comunicação nunca revelam à grande massa. Vejamos
alguns dados: o salário do negro é 70% menor do que o do branco; a taxa de
analfabetismo entre os negros é de 14,4%, já entre os brancos é de 5,9%; o
número da taxa de desemprego entre os negros é de 10,1%, enquanto que entre os
brancos é de 8,2%; já o índice de negros nas universidades é de 12,8%; o número
de negros e pardos representam 66,5% da população carcerária; e por fim, o
número de mortes por causas violentas é de 65,5% entre os negros.
Todos esses dados são do último Senso do IBGE. Se fizermos a mesma
comparação entre as mulheres negras e as mulheres brancas e entre as mulheres
negras e os homens brancos, alguns dados mais dobram. Isso revela o quanto
precisamos avançar na conquista pela igualdade de direitos. Políticas
afirmativas fazem uma compensação entre o atraso social e econômico que
historicamente essa população sempre viveu, pois existe uma parcela
significativa da população que repugna toda e qualquer forma de inclusão dos
negros em universidades e no mercado de trabalho, além de haver também uma
discriminação velada nos espaços institucionais em nosso estado. Um exemplo é a
liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do nosso estado, a pedido da
Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul, anulando a Lei que estabelece
feriado no dia 20 de novembro, ao contrário do que já acontece em tantos outros
estados e em mais de 750 municípios brasileiros.
O racismo ainda produz a
invisibilidade da população negra e é necessário que produzamos uma
proporcionalidade de acesso aos meios que garantam igualdade para todos.
Somente assim chegaremos a tão sonhada sociedade harmoniosa.
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