Mais uma vez
Mato Grosso do Sul vira destaque no cenário nacional exportando notícias não
muito agradáveis para uma reputação do nosso estado e do nosso povo. Depois do
escândalo da saúde amplamente divulgado pelos grandes meios de comunicação
mostrando uma verdadeira máfia que se beneficiava com a morte de paciente com
câncer, agora é a vez do genocídio cultural contra os povos indígenas daqui.
Mas a ideia principal desse texto não é falar sobre o assassinato e sobre a
violência física e psicológica sofrida por esses nossos irmãos indígenas. A
ideia aqui é debater um pouco sobre o preconceito. Tão forte e tão impactante
quanto a morte do índio terena Oziel Gabriel, no dia de Corpus Christi, na área de retomada da Fazenda Buriti, em Sidrolândia,
é a falta de conhecimento carregado de preconceito por parte da maior parte da
população não índia.
Os comentários postados nos jornais digitais e nas redes sociais, bem como os comentários feitos por pessoas em filas de banco, em salas de consultórios, nos corredores das universidades e nas sacristias de igrejas revelam o quanto existe ainda de falta de conhecimento ou até mesmo maldade para com os povos originários do nosso estado e do nosso país. Muitas pessoas acabam reproduzindo falas e argumentos dos detentores do poder econômico mesmo não fazendo parte desse grupo. Muitos trabalhadores e pessoas simples que batalham pela sua sobrevivência no dia a dia muitas vezes pesam e agem como os grandes produtores rurais mesmo não o sendo e fazem uma defesa muitas vezes cegas destes como se, sem eles, nós não sobreviveríamos. Os argumentos são tão fortes em defesa do agronegócio que os índios, que é a maior vítima desse poder econômico capitalista que expropria não somente o bem, mas a dignidade da pessoa humana, acabam se tornando os principais agressores e infratores da ordem previamente estabelecida pelo Estado de direito.
Muitos
comentários são feitos com base de que os povos indígenas querem a terra, sem
nela produzir nada. Muitos não sabem que a relação do índio não é somente o da
produção, aliás, quem disse que e índio tem que produzir? Quem disse que o
índio tem que ter uma relação com a terra como o restante da sociedade
capitalista? A relação que o indígena tem com a terra não é comercial e sim
cultural. A terra é o espaço da socialização, da cultura e da harmonia. Também
é o espaço da produção, mas não da
produção nos moldes que conhecemos que visam tão somente o lucro e a acumulação
de bem.
A mídia também,
em geral, tem dado uma enorme contribuição a esses ataques racistas ao inverter
a lógica de quem é a vítima e de quem é o agressor.
Se os ruralistas dão entrevistas, escrevem
artigos, e aparecem por todos os lados sempre disponíveis, os índios ainda não
têm chance de se expressar. A eles têm restado as redes sociais, pelas quais
podem manifestar suas indignações. Expor, por exemplo, a crueldade de uma
jornalista da TV Globo que invadiu um funeral para entregar uma intimação
judicial a índios terenas durante o enterro de Oziel Terena. O que mais tem
circulado nas redes sociais são manifestos que não encontram eco na mesma mídia
que ataca os índios - mas que encontra meios de se fazer circular e provocar o
debate.
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